Feliz mais uma volta ao redor do Sol: o Movimento de Translação da Terra
Pensando sobre a virada de ano, veio em minha mente aqueles clássicos memes de ciência de Ano Novo: “Feliz mais uma volta ao redor do Sol”; “ ‘O que eles estão comemorando?’ – disse um alienígena. ‘O planeta deles deu uma volta ao redor de sua estrela’ – respondeu o outro alienígena. ‘Viu, eu disse que eles não eram inteligentes’ – respondeu o primeiro”; entre tantos outros memes. Por isso, resolvi escrever este texto sobre um dos dois principais movimentos do nosso planeta Terra: o movimento de translação.
Creio que muitos de vocês devem saber que, bem antes do desenvolvimento do conhecimento científico, as pessoas acreditavam que o mundo que habitamos era plano, com um domo sobre ele, em que estavam contidos o Sol, a Lua, as estrelas fixas e a estrelas errantes (que hoje chamamos de planetas). Este pensamento era quase hegemônico milênios atrás. Encontramos tais descrições até em textos sagrados de várias religiões, como nas Bíblias Hebraica e Cristã: “Deus disse: ‘Haja um firmamento no meio das águas e que ele separe as águas das águas’, e assim se fez. Deus fez o firmamento, que separou as águas que estão sob o firmamento das águas que estão acima do firmamento, e Deus chamou ao firmamento ‘céu’ ” (Gn 1:6-8a).
Claro, cabe humildade de nossa parte para não julgarmos um texto milenar com os conhecimentos em matemática, física, astronomia, biologia e cosmologia que temos hoje em dia. Foi só com o passar do tempo que algumas pessoas começaram a cogitar sobre a esfericidade da Terra – até em tão, ela não era considerada um planeta. O principal nome que vem em mente é Eratóstenes de Cirene, grande filósofo, matemático astrônomo da Grécia Antiga. Ele conseguiu, no século III a.E.C., não só provar a esfericidade da Terra, mas também calcular sua circunferência apenas observando sombras e utilizando trigonometria.
No entanto, esse foi apenas o primeiro passo. Outro grande filósofo e pensador da Grécia Antiga que contribuiu para a descoberta e afirmação da esfericidade da Terra foi Aristóteles de Estagira, século IV a.E.C., desenvolvendo o modelo geocêntrico. Porém, em um período próximo, havia um homem chamado Aristarco de Samos, matemático, filósofo e astrônomo grego, que é considerado o pioneiro no desenvolvimento do modelo heliocêntrico, ou seja, que as estrelas errantes (planetas) e a Terra, também sendo um planeta, giravam ao redor do Sol. Todavia, seu modelo foi sendo esquecido ao longo dos séculos e, com a ascensão do cristianismo, a Igreja a adotou o modelo geocêntrico de Aristóteles.
Desde a Antiguidade e, principalmente, na Idade Média, a Teologia Cristã bebeu muito da Filosofia Grega, havendo dois grandes períodos: Patrística (principal nome: Santo Agostinho de Hipona) e Escolástica (principal nome: São Tomás de Aquino), respectivamente. Porém, a partir do século XIV, estava surgindo um movimento que ficaria conhecido como Renascimento, pois nele havia um busca pelo retorno da cultura e do pensamento greco-romano. Foi neste período que Nicolau Copérnico, um astrônomo e matemático dos séculos XV e XVI, redescobriu o modelo heliocêntrico de Aristarco de Samos.
Após ele, vieram outros dois grandes nomes: Johannes Kepler (séculos XVI e XVII), que descreveu as três leis do movimento planetário, e Galileu Galilei (mesmos séculos), que provou tais leis e teorias através de observações telescópicas. Porém, em princípio, essas descobertas estavam ruindo com algumas crenças do senso comum, que eram sustentadas pela Igreja. Afinal, além da Bíblia, em que há uma passagem que Deus parou o Sol (Js 10:10-14), ela também tinha o modelo geocêntrico de Aristóteles. Atualmente, vários teólogos, igrejas e denominações, tanto católicas quanto protestantes, não interpretam tais passagens de forma literal. A teoria moderna que descreve os primeiros estágios de evolução do universo, o Big Bang, foi criada por um padre e professor de física: Georges Lemaître (século XIX).
Vemos como as Histórias da Ciência, da Filosofia e da Teologia são formadas por várias controvérsias. Com as Leis de Kepler, sabemos que a trajetória dos planetas ao redor do Sol não são circulares, mas elípticas. Também que, quanto mais próximo um planeta está próximo do Sol (periélio), maior é sua velocidade; e, quanto mais distante ele está do Sol (afélio), menor é a sua velocidade (1ª Lei). No entanto, essa não é a causa das estações do ano. A causa se deve à inclinação do eixo da Terra. Por causa do movimento de translação do nosso planeta, a posição do eixo vai mudando em relação ao Sol: em 21 de junho, há a maior incidência de radiação solar no hemisfério norte do que no hemisfério sul (o solstício), sendo verão e inverno, respectivamente. O contrário ocorre em 21 de dezembro (também solstício). Em 20 de março e 22 de setembro, ocorrem os equinócios de outono/primavera e primavera/outono, nos hemisférios sul e norte, respectivamente. Nesses dias, a incidência de radiação solar é a mesma nos dois hemisférios.
Outro fato
interessante a se comentar é que a Terra não leva exatamente 365 dias para dar
uma voltar ao redor do Sol, mas 356 dias, 5 horas, 45 minutos e 46 segundos.
Por isso que temos um dia a mais em fevereiro, de quatro em quatro anos, pois
essas 6 horas aproximadas equivalem a ¼ de dia. As regras dos anos bissextos
são as seguintes: De 4 em 4 anos é ano bissexto (1), de 100 em 100 anjos não é
ano bissexto (2), de 400 em 400 anos é ano bissexto (3), prevalecem as últimas
regras sobre as primeiras (4). Enfim, daqui a pouco se inicia mais um ano. Desejo a todos mais
uma feliz volta ao redor do Sol!
REFERÊNCIAS:
LIVIO, Mario. Deus é Matemático? Tradução de Jesus de Paula Assis. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2012.
GOUVEIA, Rosimar. Movimento de Translação. TodaMatéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/movimento-de-translacao/. Acesso em 31 de dezembro de 2021.
MATIAS, Átila. Movimento de translação. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/movimento-translacao.htm. Acesso em 31 de dezembro de 2021.
Por Alexandre Dettmann Kurth, graduando em Licenciatura em Matemática pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes). Realiza divulgação, comunicação e popularização da Ciência, da Filosofia e da Teologia nas redes sociais.
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