“Não Olhe para Cima”: uma crítica, em forma de sátira, ao negacionismo de Trump e Bolsonaro

 


    Durante esses dias, uma das coisas que eu mais via as pessoas comentando nas redes sociais, desde nerds e divulgadores científicos até ativistas e militantes sócio-políticos, foi sobre o novo filme produzido e lançado pela Netflix em sua plataforma de streaming, “Não Olhe para Cima”. O filme é uma grande sátira ao negacionismo, às teorias da conspiração e ao descaso para com a ciência e os pesquisadores científicos, principalmente, tratando-se dos governos de Donald Trump (EUA) e Jair Messias Bolsonaro (BR).

 

    O enredo narra a história de um professor universitário e sua aluna de doutorado que, utilizando-se de cálculos matemáticos, previram a colisão de um cometa com o nosso  planeta Terra. Desesperadamente, ambos tentaram anunciar tal fato ao Governo Estadunidense. Porém, para a surpresa do cientista e de sua doutoranda, a Presidente da República e seus assistentes desmereceram todo o trabalho e toda a preocupação deles. Pior ainda foi o fato de terem sido, praticamente, impedidos de divulgar essa informação à mídia.

 

    Mesmo assim, com muita ousadia e desespero, foram anunciar essa terrível tragédia que se aproxima num jornal de TV. Novamente, o professor e a doutoranda foram tidos como loucos. Os apresentadores do programa não deram a mínima importância ao que ambos tinham a dizer. Ao longo do filme, a mídia e, principalmente, as pessoas das redes sociais, vão levando tal fato a memes e chacotas. Quando o cientista e sua doutoranda recebem a notícia de que o Governo dos EUA estava disposto a combater o cometa antes que ele colidisse com a Terra, ficam aliviados. Porém, inicialmente, mal sabiam que o Governo e uma empresa de Tecnologia Digital bilionária estavam trabalhando juntos para extrair minerais preciosos e necessários para a construção de mais aparelhos digitais, como smartphones. Isto é, a preocupação não era salvar as vidas da população mundial, mas o lucro de uma empresa capitalista.

 

    Como muitos de vocês já devem estar prevendo, o cometa atinge o nosso pequeníssimo planeta, nosso Pálido Ponto Azul, como dizia o grande astrônomo e divulgador científico Carl Sagan. Praticamente, todas as pessoas morreram. Todavia, para a surpresa de todos, a presidente e algumas outras pessoas conseguiram sobreviver, evacuando da Terra, dentro de cápsulas de uma nave e chegando num outro planeta. Infelizmente – ou felizmente – ela e todas as outras pessoas foram devoradas por animais alienígenas e, assim, acabando o filme. Com tudo isso, vemos que este filme, além de ser uma crítica ao negacionismo científico e às teorias da conspiração, também é uma crítica ao nosso sistema capitalista desenfreado. Grandes empresar capitalistas usam o conhecimento científico, não para construírem uma sociedade melhor, mas para aumentar seu capital às custas da vida das outras pessoas, principalmente da classe trabalhadora.

 

    Lideres políticos, como Trump e Bolsonaro, foram muito bem retratados na presidente deste filme. Desde o começo da Pandemia de Covid-19 até os dias de hoje, vimos e vemos pessoas negando a eficácia das vacinas produzidas e do uso das máscaras e defendo remédio sem comprovação científica no combate ao Sars-CoV-2, o novo coronavírus. O trumpismo e o bolsonarismo foram dois lados da mesma moeda em relação à vida das pessoas de seus respectivos países. O filme é uma obra de ficção, mas, como diz em seu próprio anúncio, é “baseado em possíveis fatos reais”.


Por Alexandre Dettmann Kurth, graduando em Licenciatura em Matemática pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes). Comunicador, divulgador e popularizador da Ciência, da Filosofia e da Teologia nas redes sociais.

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