Supercondutores: uma possibilidade para levitar seres humanos?
A ideia de levitação sempre fascinou a humanidade. Do ponto de vista da física, ela pode ser compreendida a partir de interações magnéticas. Quando aproximamos dois polos iguais de ímãs – dois polos positivos ou dois polos negativos –, ocorre repulsão. Esse mesmo princípio está por trás dos trens maglev (magnetic levitation), já utilizados em países como Japão e China. Nesses trens, ímãs localizados na parte inferior do veículo e nos trilhos criam um campo magnético que faz o trem “flutuar” alguns centímetros acima da superfície. Isso elimina quase totalmente o atrito, permitindo velocidades muito maiores do que em sistemas ferroviários convencionais. Para se ter uma ideia, em 2015, o trem maglev japonês, na província de Yamanashi, atingiu a marca de 603 km/h em testes. Apesar do desempenho impressionante, a tecnologia maglev tem uma desvantagem crucial: o custo altíssimo de construção e manutenção da infraestrutura magnética. Nesse ponto entram em cena os supercondutores.
Um supercondutor é um material que, abaixo de uma certa temperatura crítica, apresenta resistência elétrica nula. Isso significa que uma corrente elétrica pode circular indefinidamente sem perda de energia. Além disso, eles exibem o chamado efeito Meissner: a expulsão de linhas de campo magnético do interior do material. Esse efeito tem consequências notáveis. Se colocarmos um ímã sobre um supercondutor resfriado, o campo magnético não consegue penetrar o material e é repelido. O resultado é que o ímã levita estável sobre a superfície, um fenômeno também conhecido como levitação quântica.
Teoricamente, se fosse possível escalar essa tecnologia, um ser humano equipado com ímãs suficientemente fortes poderia levitar sobre uma plataforma supercondutora. O problema é que os supercondutores atualmente conhecidos exigem temperaturas extremamente baixas – muitas vezes próximas ao zero absoluto (-273 °C) – para se comportarem dessa forma. Isso demanda o uso de hélio líquido ou nitrogênio líquido, o que torna inviável qualquer aplicação cotidiana como a levitação de pessoas.
A grande revolução seria a criação de supercondutores à temperatura ambiente, algo que a Física ainda busca intensamente. Em 2020, pesquisadores chegaram a registrar supercondutividade em condições próximas a esse cenário, mas apenas sob pressões enormes, milhões de vezes maiores que a pressão atmosférica, o que ainda não resolve o problema prático. O físico teórico Michio Kaku observa essa busca com entusiasmo e aponta que ainda não temos uma teoria completa para explicar a supercondutividade em altas temperaturas. Para ele: “Um prêmio Nobel está aguardando o físico empreendedor que possa explicar como funcionam os supercondutores em altas temperaturas.” (KAKU, 2008).
A pesquisa em supercondutores é uma das mais promissoras da física contemporânea. Ela não apenas pode revolucionar o transporte, mas também impactar áreas como computação quântica, transmissão de energia elétrica sem perdas e o desenvolvimento de novos dispositivos médicos (como aparelhos de ressonância magnética mais eficientes).
Quanto à levitação de seres humanos, ainda estamos em um campo de especulação científica, mas com base sólida: o fenômeno já existe em pequena escala e foi demonstrado diversas vezes em laboratórios e feiras científicas. O que falta é tecnologia para expandir esse efeito a ponto de suportar o peso de uma pessoa, e isso depende diretamente de avanços no estudo dos supercondutores. Se a história da ciência nos ensina algo, é que muitos sonhos aparentemente impossíveis acabam se tornando realidade. O que hoje é apenas uma demonstração em miniatura, amanhã pode transformar radicalmente a forma como nos locomovemos – e talvez até nos permita levitar de verdade.
Referência
KAKU, Michio. Física do Impossível: uma exploração pelo mundo dos phasers, campos de força, teletransporte e viagens no tempo. Tradução de Talita Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 2010.
Alexandre Dettmann Kurth está cursando Licenciatura em Matemática (97,86% concluída) pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes); é professor de Matemática e Física pela Secretaria de Estado da Educação do Espírito Santo (Sedu/ES) e divulgador/comunicador científico, filosófico e teológico nas redes sociais.
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